sábado, 7 de julho de 2007

De Ricardo às questões atuais em Economia Internacional.

"Existe um paradoxo mercado de etanol: existe oferta no Brasil e uma fome de combustível no mundo inteiro" (George Soros, sobre seu investimento no mato grosso em 2007).

As Relações Globais têm se intensificado com o avanço da tecnologia. Mecanismos diversos têm tentado, não só descrever, mas medir esta intensidade. No campo da economia estão presentes as Balanças comerciais, as taxas de câmbio, PIBs e PNBs, enfim.

A análise da economia internacional precede o pensamento de Ricardo (David Ricardo, economista e filósofo do século XVIII). Já nos mercantilistas estão presentes às idéias de comportamento de uma nação em relação às mercadorias produzidas, tanto nacionalmente quanto no resto do mundo. Sistematizações diversas que passaram pelo raciocínio de Heckcher-Ohlin e Potter levaram a inúmeras sugestões de posturas que permeiam as decisões governamentais até os nossos dias.

Embora seja o jogo político muito mais complexo que os modelos possam expressar, muitas das decisões são bem fundadas em modelos matemáticos e estratégias de longo prazo baseadas em algumas questões que serão expostas neste artigo.

Este artigo se divide em duas partes além da introdução e da conclusão. Na primeira parte se tenta sistematizar o pensamento de Ricardo a partir de suas origens mercantilista e smithiana além do pensamento de Heckcher-Ohlin dando uma base para o entendimento de economia internacional. Numa segunda etapa são discutidas idéias mais recentes, como a de Potter e questões atuais como Câmbio, tendência a importar, políticas de crescimento econômico e as afetações do comércio na eficiência destas, blocos econômicos e desvio de comércio.

CAPITULO 1


O pensamento de Smith e em seguida o de Ricardo são avanços em relação às idéias mercantilistas. Realmente pode-se pensar em importação e exportação como um jogo de soma zero (como nas idéias dos mercantilistas que aconselhavam exportar o máximo e importar o mínimo). Quando se pensa assim é inevitável à impressão de que o comércio internacional beneficia certos países e prejudicam outros. Este mal-entendido será mais discutido ao logo deste capítulo.

Durante o período em que, no mundo todo, eram fortes as idéias mercantilistas, geralmente se tinha em mente as reservas em Ouro (quanto de ouro o país acumulava em função do comércio internacional). As exportações traziam ouro para as nações e as importações os levavam para o estrangeiro. deixando de lado os inevitáveis efeitos de valorização da moeda interna, o resultado mais imediato da difusão destas idéias é o levantar de barreiras tarifárias às importações. O que realmente foi verificado entre os países na época.

Quando Smith apresenta as vantagens do comércio internacional ele tem em mente as vantagens absolutas: Produzir com a menor quantidade de trabalhadores possível. Quando Ricardo Aprimora estas idéias ele tem em mente as vantagens relativas. Por que produzir queijo e vinho se é possível ao país detentor de tais vantagens colocar sua força produtiva em vinho e importar queijo do estrangeiro tendo assim um maior consumo e maior eficiência? A resposta de Ricardo é aproveitar as Vantagens Relativas e a produtividade do trabalho.

Quando se fala em vantagens relativas deve-se ter em mente o custo de oportunidade. Produz-se nacionalmente certo bem quando (Pv/Pq) > (av/aq), ou seja, o preço relativo do vinho supera o seu custo em termos de queijo.

Este pensamento típico Ricardiano leva a um consumo além da fronteira nacional de produção. Sendo então denotado o ganho em se especializar na produção de queijo e obter o vinho a partir do comércio internacional.

Uma redistribuição de renda é esperada por conta da abertura comercial e esta se dá num aumento do número de firmas produzindo queijo, por conta de uma elevação do preço do queijo agora demandado também internacionalmente. O movimento inverso também observado é o menor número de firmas nacionais produzindo vinho, porém uma maior satisfação do consumidor nacional deste produto (que agora faz uso do vinho estrangeiro).

Por conta de uma maior satisfação global temos vantagens em abrir as fronteiras e reduzir as tarifas internacionais, mesmo que se observem prejuízos setoriais.

Durante um discurso, um candidato à presidência dos EUA declarou-se contrário a importação de flores. O presidenciável argumentou que a importação de Flores prejudicava a produção nacional. Esta segunda parte do capítulo mostra que com a abundância relativa dos fatores e as vantagens comparativas, segundo o modelo de Heckcher e Ohlin, justificam a produção de flores fora dos EUA e as vantagens de se importar as mesmas da América do Sul.

O Modelo de H&O representa um avanço em relação às idéias de Ricardo quando acrescenta ao modelo mais de um fator de produção, tradicionalmente terra e trabalho. A Vantagem do comércio internacional está na devida exploração da abundância relativa dos fatores, ou seja, a utilização das vantagens comparativas.

A abundância de certo fator, via mecanismo de oferta e demanda, justifica o que uma mercadoria seja tão mais barata quanto abundante. Isto levaria a uma especialização nacional na produção do bem que utilizasse um fator mais abundante. No caso das flores, é mais barato produzi-las na América do Sul onde o clima é mais propício e a oferta de terra é relativamente abundante. Também se pode pensar na china, que com um exército de mão de obra tem seus produtos intensivos em trabalho a preços muito mais baratos. Também é o caso dos EUA intensivo em tecnologia que oferece tanto serviços de tecnologia quanto bens intensivos nesta.
Obviamente uma utilização intensiva do fator abundante elevaria seus preços, a produção intensiva em tecidos, com o uso expressivo da mão-de-obra demanda maior quantidade desta aumentando assim o valor dos salários. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à renda fundiária na produção de alimentos.

A especialização leva a um ganho global de eficiência na medida que cada país produz o máximo no que é melhor em produzir - incluindo ai as vantagens do avanço tecnológico. Porém a especialização tem custos e apresenta vantagens e prejuizos setoriais. Como argumentou o candidato à casa branca (mencionado alguns paragrafos atras) os produtores de flores nos EUA não gostarão muito desta política, pois se não forem tão eficientes quanto os estrangeiros deverão sair desta indústria, talvez acabando com um negócio familiar antigo. Já os produtores de chips - que negociam um produto intensivo em tecnologia, esta relativa e absolutamente abundante nos EUA- ficarão muito satisfeitos com a abertura comercial.

O mesmo pode se pensar na indústria de tecidos no Brasil, ou mesmo na agricultura da União Européia. Ambos os setores se beneficiariam pela maior oferta global de produtos que seriam proporcionados pela maior abertura. No caso do Brasil, a população entende ser interessante proteger os trabalhadores que seriam desempregados caso as empresas brasileiras não suportassem a concorrência com a China - relativamente e absolutamente abundante em mão-de-obra. Para a União Européia é estratégico proteger seus produtores agrícolas devido ao peso da opinião pública sobre o assunto, mesmo sendo esta beneficiada por uma maior oferta de produtos brasileiros no caso da abertura.

A especialização de cada economia leva a maior eficiência na produção mundial, porém custos e benefícios setoriais são perceptíveis no processo de ajustamento, afinal nem tudo são flores no comércio internacional.

(continua com o capítulo 2 e a conclusão)

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